Entre um obstáculo e outro, as rodinhas deslizavam pelo chão liso de basalto. As manobras eram feitas nas bordas de mármore das esculturas e dos bancos. Esse era um dos maiores picos dos skatistas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, na década de 1990: a Praça da Matriz. Foi nesse local que Marcos Cida e Cezar Gordo, precursores do skate de rua na capital gaúcha, iniciaram o projeto Matriz Vídeos. 'A gente tinha uns 15 anos de idade e queríamos mostrar a cena do skate de Porto Alegre fora daqui', declara Cida. Não existia revista sobre o assunto e a internet estava apenas começando, portanto, eles gravaram quatro fitas VHS com manobras que faziam na rua e distribuíram fora do estado.
Na época, a dupla já competia e conseguia bons patrocínios de marcas do ramo. Dois anos depois, Cida e Gordo resolveram iniciar um negócio próprio. Com o incentivo da família, eles criaram a Matriz Skateshop. 'As lojas que existiam na época não eram tão boas, a gente queria criar uma skateshop em que o pessoal tivesse mais conhecimento técnico para ajudar os skatistas que viessem comprar', destaca Cida.
Junto com a loja, no dia 12 de maio de 2001 foi inaugurado o espaço que atualmente é referência nacional para o skate de rua, o IAPI Skate Park, uma pista pública localizada na Rua Dr. Eduardo Chartier, no bairro Higienópolis. 'A pista do IAPI era um sonho que a gente tinha desde a época que começou a andar junto, ela foi inspirada nas ruas de POA', afirma Cida. O espaço tem referências como o piso de Basalto Polido igual ao da Praça da Matriz e os bancos parecidos com o da Praça XV, locais onde os skatistas gaúchos costumavam fazer suas manobras.
A partir de 2009, Cida e Gordo passaram a realizar o Matriz Skate PRO, um campeonato para celebrar o aniversário da loja Matriz e reunir grandes skatistas. O evento leva milhares de pessoas de todo o país (e até mesmo de fora) para a pista do IAPI. Desde 2012, quem ficava com o primeiro lugar era Luan de Oliveira. Na edição deste ano, que aconteceu no dia 12 de novembro, Carlos Iqui participou pela primeira vez como profissional e venceu a competição, levando o prêmio de R$ 11 mil para casa.
Diversão x competição
A pista do IAPI recebe pessoas de diversas idades: desde os pequenos (às vezes, menores que o próprio skate), até os mais velhos. Os propósitos também são diversos. Leandro Montiel, 32 anos, começou a andar de skate com 5 anos de idade e pratica no IAPI desde que o espaço foi inaugurado: 'Hoje frequento muito menos por questão de tempo e também por ver a pista com outros olhos. Antes era um lugar que ia pra encontrar meus amigos e fazer um rolê. Agora parece um centro de treinamento. Mas o IAPI sempre vai ser o lar do skatista de POA'. Atualmente, o rapaz trabalha com produções audiovisuais para marcas de skate, mas fora isso, tem esporte como diversão, afirmando que não gosta de competir.
Ramires Rodrigues, 18 anos, de Canoas, começou a participar de competições com 13: 'No primeiro campeonato, eu fiquei em 2º lugar na categoria mirim, em Esteio. Depois disso comecei a colar em vários outros'. Com o bom desempenho que estava tendo, Ramires passou a procurar apoio de marcas, mas não teve retorno. 'É muito difícil as marcas de Esteio apoiarem um atleta de outro lugar. O problema do skate é a contradição: todos querem subir, mas ninguém quer subir junto. Tem muita gente que é de verdade ainda, mas é difícil achar um que anda pelo skate mesmo', desabafa.
O diretor de arte da Giornale, Renan Teixeira Lima, 31 anos, anda de skate no IAPI em todos os finais de semana. Ele quis competir, mas nunca levou a ideia adiante: 'Já tive vontade, mas sou pé no chão, nunca andei tão bem ao ponto de me profissionalizar'. Apesar de não participar de campeonatos, Renan gosta de assistir. 'Curto ver o Tampa AM, Street League e o Matriz Pro, entre outros', contou. Entre os skatistas que tem como referência, ele citou os gaúchos Luan de Oliveira e Ique.
Independente de competições, tanto Renan, quanto Ramires e Leandro, têm o skate como algo muito importante. Para Renan, o esporte é quase como uma terapia: 'Esqueço dos problemas, me exercito, dou risada com os amigos e sempre acabo aprendendo uma manobra nova'. Ramires, vê o skate como uma forma de evolução: 'Me ajudou demais, me ensinou muita coisa, pois querendo ou não tu tá na rua, né. E pra mim, a rua que ensina mesmo'. Leandro conta que sofre preconceito diariamente: 'Preto, 32 anos, skatista, todos os dias, né'. Mas nada disso o impede de parar com o que ama. Ele resume a sua relação com o esporte em uma sentença: 'O skate é a vida'.
Skate como inclusão social
Além do esporte, da diversão e da competição, o skate também é uma ferramenta de inclusão social para muitas pessoas que nascem em situação menos privilegiada. Em seus 15 anos de existência, a pista do IAPI já contribuiu com a vida de muitos jovens. Djorge Oliveira é um exemplo. Ele nasceu em um dos locais mais pobres e violentos de Porto Alegre: a vila Bom Jesus, conhecida como Bonja. Seu primeiro contato com o esporte foi pelos videogames. Quando conseguiu comprar um skate, começou a andar no IAPI e, desde então, só evoluiu. Sua habilidade fez com que vencesse uma competição em que teve como prêmio a chance de passar alguns meses em Barcelona, na Espanha, conhecida como a 'terra do mármore' pelos skatistas. Assim como recebeu apoio quando estava no início, atualmente, Djorge ajuda crianças pobres que querem andar de skate.
Luan de Oliveira é outro ícone que teve uma história difícil. Sua infância foi marcada pelo abandono dos pais e pela violência do local onde morava. Quando começou a andar no IAPI, logo mostrou que tinha um dom. Recebeu apoio de Cida e Gordo e hoje ele é reconhecido internacionalmente por já ter vencido diversos campeonatos como skatista profissional, além de fazer parte da Equipe Matriz.
Cida explica a relevância do esporte para quem nasceu em situação menos favorável: 'O skate tem um papel muito importante na inclusão social. E, muitas vezes, por passarem por dificuldades e desafios maiores, eles (os skatistas) acabam tendo mais garra do que outros adolescentes que têm uma situação financeira melhor. Não têm distrações, celular, internet… O skate é tudo'.
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Since 2001, the public track has been the home of gaucho skaters and has been revealing great talents of the sport.
Between one obstacle and another the training wheels slid across the smooth basalt floor. The maneuvers were done on the marble edges of the sculptures and benches. This was one of the biggest skater peaks in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil, in the 1990s: Praça da Matriz. It was at this place that Marcos Cida and Cezar Gordo, precursors of street skateboarding in the state capital, started the Matriz Videos project. 'We were about 15 years old and we wanted to show the Porto Alegre skate scene out of here,' says Cida. There was no magazine on the subject and the internet was just starting, so they recorded four VHS tapes that they did on the street and distributed out of state.
At the time, the duo already competed and got good sponsorship of brands in the field. Two years later, Cida and Gordo decided to start a business of their own. With the encouragement of the family, they created the Skateshop Matrix. 'The stores that existed at the time were not so good, we wanted to create a skateboards where people had more technical knowledge to help skaters who came to buy,' says Cida.
Along with the store, on May 12, 2001, the space that is currently a national reference for street skateboarding, IAPI Skate Park, was inaugurated, a public track located at Dr. Eduardo Chartier Street, in the Higienópolis neighborhood. 'The IAPI track was a dream we had since the time we started walking together, it was inspired by the streets of POA,' says Cida. The space has references such as the Polished Basalt floor like that of Matriz Square and benches similar to that of Praça XV, places where gaucho skaters used to perform their maneuvers.
From 2009, Cida and Gordo started holding the Matriz Skate PRO, a championship to celebrate the anniversary of the Matriz store and bring together great skaters. The event takes thousands of people from all over the country (and even from abroad) to the IAPI track. Since 2012, who was in first place was Luan de Oliveira. In this year's edition, which took place on November 12, Carlos Iqui participated for the first time as a professional and won the competition, taking the R $ 11,000 prize home.
Fun vs. Competition
The IAPI track welcomes people of various ages: from the small (sometimes smaller than the skate itself) to the older ones. The purposes are also diverse. Leandro Montiel, 32, has started skateboarding at the age of 5 and has been practicing at IAPI since the space was inaugurated: 'Today I go a lot less because of time and also seeing the track with other eyes. It used to be a place that went to meet my friends and go for a ride. Now it looks like a training center. But IAPI will always be the home of the POA skateboarder. ' Currently, the boy works with audiovisual productions for skateboarding brands, but other than that, he has sports as fun, stating that he does not like to compete.
Ramires Rodrigues, 18, from Canoas, started participating in competitions with 13: 'In the first championship, I was in 2nd place in the child category, in Esteio. After that I started to paste in several others'. With the good performance he was having, Ramires started looking for brand support, but had no return. 'It is very difficult for Esteio brands to support an athlete from elsewhere. The problem with skateboarding is the contradiction: everyone wants to climb, but nobody wants to climb together. There are a lot of people who are really still, but it's hard to find one who rides a skateboard, 'he says.
Giornale Art Director Renan Teixeira Lima, 31, skate at IAPI every weekend. He wanted to compete, but never took the idea further: 'I've had the urge, but I'm down to earth, I've never done so well to the point of professionalization.' Despite not participating in championships, Renan likes to watch. 'Nice to see Tampa AM, Street League and Matrix Pro, among others,' he said. Among the skaters he has as a reference, he mentioned the gauchos Luan de Oliveira and Ique.
Regardless of competitions, both Renan, Ramires and Leandro, have skate as something very important. To Renan, sport is almost like therapy: 'I forget about problems, exercise, laugh with friends, and always end up learning a new maneuver.' Ramires, sees skateboarding as a form of evolution: 'It helped me a lot, taught me a lot, because whether or not you're on the street, right. And for me, the street that really teaches'. Leandro says he suffers prejudice daily: 'Black, 32 years old, skateboarder, every day, right'. But none of this keeps you from stopping with what you love. He summarizes his relationship with sport in one sentence: 'Skateboarding is life'.
Skate as social inclusion
In addition to sport, fun and competition, skateboarding is also a social inclusion tool for many people who are born in a less privileged situation. In its 15 years of existence, the IAPI track has already contributed to the lives of many young people. Djorge Oliveira is an example. He was born in one of the poorest and most violent places in Porto Alegre: the Bom Jesus village, known as Bonja. His first contact with the sport was through video games. When he was able to buy a skateboard, he started riding on IAPI and has only evolved since then. His ability made him win a competition in which he had the chance to spend a few months in Barcelona, Spain, known as the 'land of marble' by skaters. Just as it was supported at the beginning, Djorge currently helps poor children who want to skate.
Luan de Oliveira is another icon that has had a difficult history. His childhood was marked by the abandonment of his parents and the violence of the place where he lived. When he started walking at IAPI, he soon showed that he had a gift. He received support from Cida and Gordo and today he is internationally recognized for having won several championships as a professional skateboarder, as well as being part of the Matrix Team.
Cida explains the relevance of sport to those born in a less favorable situation: 'Skateboarding plays a very important role in social inclusion. And often, because they face greater difficulties and challenges, they (the skaters) end up having more grit than other teenagers who have a better financial situation. No distractions, no cell phone, no internet ... Skateboarding is everything. '
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