Não se espante com a seguinte cena em Tóquio-2020: um skatista faz uma volta perfeita, está com uma mão no ouro e aguarda a apresentação do último competidor.
O adversário realiza manobras inéditas e lhe rouba o primeiro lugar. Vencedor e derrotado comemoram juntos na pista e no pódio.
Esse é o espírito do skate, que estreará em Olimpíadas no ano que vem, e do qual faz parte o brasileiro Pedro Barros, em busca da vaga e mais pontos no ranking olímpico a partir desta sexta-feira no Oi STU Open, na Praça do Ó, na Barra da Tijuca.
No evento máximo da excelência esportiva, a competitividade é só mais um detalhe no esporte que também é filosofia de vida, explica o skatista de 24 anos, hoje o terceiro melhor do mundo no ranking classificatório para Tóquio, na categoria Park.
A empatia, a compaixão e a vida em comunidade são pilares da modalidade que começou nas ruas e ganha, definitivamente, caráter profissional com a inserção nos Jogos Olímpicos. Pedro admite que o jeitão dos skatistas pode espantar o mundo olímpico. Mas espera, na verdade, que seja um exemplo.
— Claro que todos que estão ali vão querer vencer. Mas não é só sobre isso. Estamos num mundo intolerante, que tudo é motivo de disputa e guerras. Falta compaixão.
O skate pode mostrar como é possível a convivência entre pessoas de universos diferentes — diz o catarinense, que se divide entre os Estados Unidos e Florianópolis, onde tem no quintal de casa pistas particulares que recebem eventos e amigos passam temporadas.
Disputa Acirrada
O excesso de profissionalismo e o alto nível de competitividade não assustam o skatista. Não serão capazes de descaracterizar a essência do esporte. Devem servir ao propósito de angariar mais adeptos e fazer evoluir a modalidade.
Hoje, em números gerais de praticantes, já aparece em segundo lugar no Brasil, atrás apenas do futebol. O STU Open na Barra, por exemplo, é um dos principais eventos do calendário (além da competição, toda a cultura do skate é promovida) e abre a segunda janela da corrida olímpica. Dos próximos cinco torneios classificatórios para Tóquio é o de maior pontuação na categoria park, com 60 mil pontos.
— Está atrás apenas do Mundial. Queremos fazer uma edição antes dos Jogos para promover ainda mais o esporte aqui no Brasil. Ainda mais com a possibilidade de ser o esporte recordista de medalhas para o país em Tóquio. Mas vai depender do calendário para não atrapalhar as competições — afirma Bruno Cremona, gerente de patrocínios e eventos da Oi.
Um bom exemplo do clima do skate está na briga pelas três vagas do Brasil nos Jogos Olímpicos. Pedro Barros aparece em terceiro do ranking classificatório, mas é o segundo brasileiro da lista, atrás de Luizinho Francisco. Outros quatro estão entre os 20 melhores: Pedro Quintas, Mateus Hiroshi, Murilo Peres e Hericles Fagundes. Todos são amigos.
— É praticamente certo que estarei entre os 20 melhores do ranking, mas isso não me garante em Tóquio. É mais difícil estar entre os três melhores brasileiros. E ainda pode aparecer um outro nome que não estava vindo tão bem em outras competições e surpreende com uma manobra e nos vence. O skate é assim — explica Pedro, que, pela sua colocação no ranking, já começa nas semifinais da competição.
De agora até maio, o skatista vai se concentrar nas competições que valem pontos para o ranking olímpico. Sem deixar de lado, porém, as competições por prazer. É justamente esse equilíbrio que o mantém entre os melhores do mundo. Também impede que episódios como a suspensão de seis meses por doping (exame acusou presença de derivado de maconha em 2018) lhe tirem o foco.
Ainda comemora a decisão da Agência Mundial Antidoping (Wada) em tornar substâncias como maconha e cocaína passíveis de penas menores a partir de 2021.
— Vejo como algo positivo sim. A gente melhora a sociedade educando e não punindo — diz.
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In search of an Olympic seat, Pedro Barros highlights the Zen style of skateboarding.
Don't be surprised by the following scene in Tokyo-2020: A skateboarder makes a perfect lap, has a hand in gold and awaits the presentation of the last competitor.
The opponent performs unprecedented maneuvers and robs him of first place. Winner and loser celebrate together on the track and on the podium.
This is the spirit of skateboarding, which will debut at the Olympics next year, and which is part of the Brazilian Pedro Barros, seeking the vacancy and more points in the Olympic ranking starting this Friday at the Oi STU Open, in Praça do Look at Barra da Tijuca.
At the ultimate event of sporting excellence, competitiveness is just one more detail in sport that is also a philosophy of life, explains the 24-year-old skateboarder, now the third-best in the world in the Park classification.
Empathy, compassion and community life are pillars of the sport that started on the streets and definitely gains professional character with the insertion in the Olympic Games. Pedro admits that the skaters' way can scare off the Olympic world. But you hope, in fact, to be an example.
"Of course everyone in there will want to win." But it's not just about that. We are in an intolerant world, which is all a matter of dispute and war. Lack of compassion.
Skateboarding can show how it is possible to live with people from different universes - says Santa Catarina, which is divided between the United States and Florianópolis, where there are private tracks in the backyard of the house that receive events and friends spend seasons.
Fierce Dispute
The excess of professionalism and the high level of competitiveness do not scare the skateboarder. They will not be able to misread the essence of sport. They should serve the purpose of attracting more fans and evolving the sport.
Today, in general numbers of practitioners, already appears in second place in Brazil, behind only football. The STU Open in Barra, for example, is one of the main events on the calendar (besides the competition, the whole skate culture is promoted) and opens the second window of the Olympic race. Of the next five qualifying tournaments for Tokyo is the highest scoring in the park category, with 60,000 points.
- Just behind the World Cup. We want to make an edition before the Games to further promote the sport here in Brazil. Especially with the possibility of being the record-breaking medal sport for the country in Tokyo. But it will depend on the calendar not to disturb the competitions - says Bruno Cremona, sponsor and events manager of Oi.
A good example of the climate of the skate is in the fight for the three places of Brazil in the Olympic Games. Pedro Barros appears in third of the ranking, but is the second Brazilian in the list, behind Luizinho Francisco. Four others are in the top 20: Pedro Quintas, Matthew Hiroshi, Murilo Peres and Hericles Fagundes. All are friends.
"It's pretty much certain that I'll be in the top 20, but that doesn't guarantee me in Tokyo." It's harder to be among the top three Brazilians. And yet another name may appear that was not doing so well in other competitions and surprises with a maneuver and beats us. Skateboarding is like this - explains Pedro, who, because of his ranking, already starts in the semifinals of the competition.
From now until May, the skater will focus on competitions worth points for the Olympic ranking. Without forgetting, however, the competitions for pleasure. It is precisely this balance that keeps him among the best in the world. It also prevents episodes such as a six-month suspension for doping (examination accused of marijuana derivative in 2018) from taking its focus.
It also commemorates the World Anti-Doping Agency's (Wada) decision to make substances such as marijuana and cocaine liable to minor penalties from 2021.
- I see as something positive yes. We improve society by educating and not punishing - he says.
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