Cidade Tiradentes, no extremo Leste de São Paulo, está mais para ilha do que para distrito. Distante e sem conexão com o Centro da capital, é formado essencialmente por conjuntos habitacionais, carece de transportes, empregos e áreas de lazer. Assim como em outras periferias, no entanto, sua população não se vitimiza e se engaja por melhorias.
Na adolescência, os seis skatistas que compõem o grupo tinham em comum o desejo de desbravar a região surfando o asfalto, as escadas e corrimões. Em 2011 iniciaram um projeto que oferece aulas do esporte, agora olímpico, para crianças e jovens. O objetivo é compartilhar os valores que aprenderam com a prática.
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Da esquerda para a direita, Anderson Lucas, Call Gomes, Elton Melônio, Marcelo Martins, Robson de Souza e Thiago Matos, do Love CT, recebem visita do G1 em Cidade Tiradentes, Zona Leste de São Paulo — Foto: Celso Tavares/G1
“O skate é um estilo de vida. Ele te apresenta à solidariedade quando só você tem uma bolacha na mochila, te ensina a se manter em equilíbrio, mostra que a evolução é gradual e que cada um tem um ritmo, te ensina a cair sem muitos arranhões e a persistir", explica Elton Melônio um dos fundadores do Love CT.
"O skate demanda coragem, autoconfiança e que você levante a cabeça para olhar sempre em frente”, afirmou o skatista profissional de 31 anos.
Contraturno escolar
O Love CT trabalha com grupos de aproximadamente 50 crianças e jovens com idades entre 4 e 17 anos, todos moradores de Cidade Tiradentes e alunos do CEU Inácio Monteiro.
“Nós procuramos ser um elo entre o CEU, que é muito importante para a região, e a comunidade", disse Marcelo Martins, 36 anos, skatista, educador e também fundador do coletivo. "Hoje atendemos quase que como contraturno escolar, de manhã e à tarde.”
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Por meio do skate, jovens atendidos pelo Love CT desenvolvem solidariedade, equilíbrio, persistência, coragem e autoconfiança — Foto: Celso Tavares/G1
As atividades fixas promovidas gratuitamente pelo grupo são aulas de skate e saraus literários, às terças, quintas e sábados.
“Um amigo professor passou uma visão importante: ‘Quando a aula acabar, troquem uma ideia para abaixar a adrenalina antes de liberá-los para casa. Pode ser perigoso sair assim pelas avenidas’. Então, incluímos o sarau, que acontece sempre depois da atividade física”, afirma Anderson Lucas, 31 anos, skatista há 19, um dos fundadores do coletivo e pai da Jasmine.
Quem ministra os saraus é Cal Gomes, 34 anos, músico, técnico de som e integrante do projeto. “Trabalhamos muito com poesia, que é divertida de ler por conta das rimas. As crianças aprendem que a palavra é divertida. Começam a frequentar com vergonha, mas uma semana depois mostram que leram e escreveram”, afirma.
Por ser um trabalho voluntário, sem patrocínio, o grupo não consegue montar um cronograma de oficinas para o ano, mas conta com a ajuda de parceiros. Ao longo dos oito anos de trabalho, foram oferecidas oficinas de música, composição em Rap, estamparia, cartografia, culinária africana e indígena, e inglês, baseada nos nomes das manobras.
Além disso, a sede do Love CT também passou a receber exposições de artistas locais, sendo a mais recentes delas "Raízes", das artistas Juliana Costa e Laís da Lama. A mostra retrata “mulheres de verdade, distantes do estereótipo de beleza vendido pela publicidade”, como define Marcelo Martins.
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Integrantes do coletivo Love CT disseram receber retorno positivo de pais e alunos, que relatam mais empenho nos estudos — Foto: Celso Tavares/G1
Impacto social
As atividades oferecidas pelo coletivo ocorrem em uma área cedida pelo CEU Inácio Monteiro, que tem pista de skate e uma casinha, que abriga a sede do Love CT. A área fica na parte externa do centro educacional e foi revitalizada pelos skatistas para uso da comunidade.
De acordo com o grupo, o local estava abandonado e havia sido degradado desde a saída de uma base da Guarda Civil Metropolitana (GCM) do local. A área era violenta, com uma média de dois carros roubados por dia, sendo a maioria pertencentes a professores do CEU, segundo os skatistas.
“Revitalizamos a área. Fizemos jardins, um arquiteto sugeriu um projeto, uma pedreira ajudou com o paisagismo, e nós construímos bancos de praça, além de cuidar da iluminação. Até o ponto final de uma linha de ônibus acabou transferido da favela para cá por conta da segurança”, acrescenta Anderson Lucas.
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Skatistas revitalizaram área do CEU onde desenvolvem trabalhos do Love CT, em Cidade Tiradentes, na Zona Leste da cidade — Foto: Celso Tavares/G1
Sobre as crianças, os integrantes do coletivo disseram receber retorno positivo de pais e alunos, que relatam mais empenho em algumas disciplinas.
“Desenvolvemos um trabalho com quadrinhos, que são uma ótima introdução à leitura devido aos diálogos curtos e figuras coloridas. Um mês depois, um aluno da 5ª série disse ter aprendido a ler porque se interessou em conhecer o conteúdo dos gibis”, exemplifica Marcelo Martins.
“Nosso trabalho às vezes parece ignorado pelo poder público, o que é uma violência. O que estamos fazendo é um complemento à educação oferecida no CEU, com metodologia. Que o poder público enxergue isso e subsidie nosso trabalho. Funciona”, acrescenta Robson de Souza, 38 anos, ativista cultural e um dos coordenadores do projeto.
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Trabalho realizado pelo Love CT acontece em área cedida pelo CEU Inácio Monteiro, Em Cidade Tiradentes — Foto: Celso Tavares/G1
Mestrado em Cidade Tiradentes
As particularidades e complexidades do distrito levaram o geógrafo Marcio Rufino Silva, que atualmente leciona na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a elaborar uma tese de mestrado sobre a Cidade Tiradentes. O processo de urbanização ajuda a compreender a realidade da população local.
“Este distrito nasceu nos anos 80 no âmbito das políticas habitacionais, sem ter sido alcançada pelo processo de urbanização, e no meio da crise nacional do pós-ditadura - as obras foram entregues incompletas, sem linhas de ônibus, comércios e empregos suficientes, e a região cresceu desordenadamente, sem a integração com o tecido urbano de que desfruta Itaquera. Se tornou um claro exemplo de segregação urbana produzida pelo Estado”, disse.
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Crianças e adolescentes fazem aulas de skate e participam de saraus promovidos pelo coletivo Love CT, em Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo — Foto: Celso Tavares/G1
Cidade Tiradentes não tem um grande veículo de massa, como trens da CPTM e do Metrô, para transportar seus mais de 200 mil habitantes pelos 35 km de distância que a separam do Centro da cidade.
Por meio de sua pesquisa, o professor Marcio Rufino Silva constatou que o maior gargalo do distrito é realmente a falta de acesso, e relembra que nem mesmo o Expresso Tiradentes chega até Cidade Tiradentes, alcançando somente a Vila Prudente.
“A população de Cidade Tiradentes vive intimamente a dinâmica da metrópole, se deslocando por distâncias enormes para chegar ao trabalho sem um transporte coletivo estruturado. No entanto, sua localização é privilegiada do ponto de vista metropolitano. Poderia ser reconfigurado com a extensão da Avenida dos Metalúrgicos em 5 ou 6 km até o trecho leste do Rodoanel. Isso acontece no trecho Oeste, cercado por galpões logísticos, e converteria Tiradentes de periferia a local de passagem, com novos negócios e dinâmicas”, exemplifica.
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É luta constante. É luta e é luta. Pela sobrevivência, pela identidade, pelo urbano
— Prof. Dr. Marcio Rufino Silva
O professor entrevistou moradores antigos da região para a realização de seu estudo e constatou que a maior parte deles chegou até lá removida de áreas que passaram por obras públicas. Ele afirma que coube a esses pioneiros reivindicar melhorias e equipamentos para a região, como a construção de um hospital.
“As pessoas não se conheciam, tinham diversas dinâmicas de vida e não tiveram chance de participar da concepção da Cidade Tiradentes. Foram desterradas da sua própria terra, mas não se vitimizam. É luta constante. É luta e é luta. Pela sobrevivência, pela identidade, pelo urbano. É uma luta pelo urbano”, concluiu.
A maior pista de patinação sobre rodas do Brasil.
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Coletivo Love CT, offers skateboarding classes and literary serials for children and adolescents from Cidade Tiradentes, São Paulo, Brazil.
City Tiradentes, in the far east of São Paulo, is more to island than to district. Distant and without connection with the center of the capital, it consists essentially of housing estates, it lacks transports, jobs and leisure areas. As in other peripheries, however, its population is not victimized and engaged by improvements.
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From left to right, Anderson Lucas, Call Gomes, Elton Melonio, Marcelo Martins, Robson de Souza and Thiago Matos, from Love CT, receive a G1 visit in Tiradentes City, East Zone of São Paulo - Photo: Celso Tavares / G1
As a teenager, the six skateboarders who made up the group had in common the desire to explore the region by surfing the asphalt, the stairs and the railing. In 2011 they started a project that offers lessons in the sport, now Olympic, for children and young people. The goal is to share the values you have learned with practice.
"Skateboarding is a way of life. He presents you with solidarity when you only have a cookie in your backpack, teaches you to keep in balance, shows that evolution is gradual and that each has a rhythm, teaches you to fall without many scratches and persist, "explains Elton Melon one of the founders of Love CT.
"The skateboard demands courage, self-confidence and you raise your head to look straight ahead," said the 31-year-old professional skater.
School Contraturno
Love CT works with groups of approximately 50 children and young people between the ages of 4 and 17, all residents of Cidade Tiradentes and CEU Inácio Monteiro students.
"We seek to be a link between CEU, which is very important for the region, and the community," said Marcelo Martins, 36, a skateboarder, educator and also founder of the collective. "Today we attend almost as a school counter in the morning and the afternoon."
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By means of skateboarding, young people attended by Love CT develop solidarity, balance, persistence, courage and self-confidence - Photo: Celso Tavares / G1
The fixed activities promoted free of charge by the group are skating lessons and literary sarahs, on Tuesdays, Thursdays and Saturdays.
"A teacher friend passed on an important vision: 'When class is over, come up with an idea to lower your adrenaline before releasing them home. It can be dangerous to leave this way on the avenues. ' So we included the sarau, which always happens after physical activity, "said Anderson Lucas, 31, a skater 19 years old, one of the founders of the collective and father of Jasmine.
Who manages the saraus is Cal Gomes, 34 years old, musician, sound technician and member of the project. "We work a lot with poetry, which is fun to read because of the rhymes. Children learn that the word is fun. They begin to attend with shame, but a week later they show that they have read and written ", he affirms.
Because it is a volunteer work, without sponsorship, the group can not set up a workshop schedule for the year, but it has the help of partners. Throughout the eight years of work, music workshops were offered, composition in Rap, stamping, cartography, African and Indian cuisine, and English, based on the names of the maneuvers.
In addition, the headquarters of Love CT also began to receive exhibitions from local artists, the most recent being "Raízes", by artists Juliana Costa and Laís da Lama. The show portrays "real women, far from the stereotype of beauty sold by advertising," as Marcelo Martins defines it.
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Members of the Love CT group have received positive feedback from parents and students, who report more commitment in studies - Photo: Celso Tavares / G1
Social impact
The activities offered by the collective take place in an area provided by CEU Inácio Monteiro, which has skateboard and a small house, which houses the headquarters of Love CT. The area is on the outside of the educational center and has been revitalized by skaters for community use.
According to the group, the site was abandoned and had been degraded since leaving a base of the Metropolitan Civil Guard (GCM) of the site. The area was violent, with an average of two cars stolen a day, most of them belonging to CEU teachers, according to the skaters.
"We revitalize the area. We made gardens, an architect suggested a project, a quarry helped with the landscaping, and we built pews benches, in addition to taking care of the lighting. By the end of a bus line, it has just been transferred from the favela to here for safety, "adds Anderson Lucas.
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Skatistas revitalized CEU area where they develop works of Love CT, in Cidade Tiradentes, in the East Zone of the city - Photo: Celso Tavares / G1
About the children, the members of the group said they receive positive feedback from parents and students, who report more commitment in some disciplines.
"We developed a work with comics, which are a great introduction to reading due to short dialogues and colorful pictures. A month later, a 5th grader said he learned to read because he was interested in knowing the content of the comics, "exemplifies Marcelo Martins.
"Our work sometimes seems ignored by the government, which is violence. What we are doing is a complement to the education offered in the CEU, with methodology. Let the public power see this and subsidize our work. It works, "adds Robson de Souza, 38, a cultural activist and one of the coordinators of the project.
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Work done by Love CT happens in area ceded by CEU Inácio Monteiro, In Tiradentes City - Photo: Celso Tavares / G1
Master in Tiradentes City
The peculiarities and complexities of the district led the geographer Marcio Rufino Silva, who currently teaches at the Federal Rural University of Rio de Janeiro (UFRRJ), to prepare a master thesis on Tiradentes City. The process of urbanization helps to understand the reality of the local population.
"This district was born in the 1980s as part of housing policies, without being reached by the urbanization process, and in the midst of the national post-dictatorship crisis - the works were delivered incomplete, without bus lines, trade and sufficient jobs, and the region grew disorderly, without the integration with the urban fabric that Itaquera enjoys. It has become a clear example of urban segregation produced by the state, "he said.
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Children and adolescents take skate classes and take part in sarahs promoted by the collective Love CT, in Cidade Tiradentes, in the East Zone of São Paulo - Photo: Celso Tavares / G1
Cidade Tiradentes does not have a large mass transit vehicle, such as CPTM and Subway trains, to transport its more than 200,000 inhabitants for the 35 km distance separating it from the city center.
Through his research, Professor Marcio Rufino Silva found that the biggest bottleneck in the district is really the lack of access, and he remembers that not even the Tiradentes Expresso arrives until Tiradentes City, reaching only Vila Prudente.
"The population of Cidade Tiradentes lives closely the dynamics of the metropolis, traveling for enormous distances to get to work without structured collective transportation. However, its location is privileged from the metropolitan point of view. It could be reconfigured with the extension of Metallurgical Avenue in 5 or 6 km to the eastern stretch of the Rodoanel. This happens in the western section, surrounded by logistic sheds, and would convert Tiradentes from the periphery to the place of passage, with new business and dynamics, "he exemplifies.
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It is constant struggle. It is struggle and it is struggle. For survival, for identity, for urban
- Prof. Dr. Marcio Rufino Silva
The teacher interviewed the region's former residents to carry out their study and found that most of them got there removed from areas that went through public works. He says it was up to these pioneers to claim improvements and equipment for the region, such as the construction of a hospital.
"People did not know each other, had different life dynamics and had no chance to participate in the design of Tiradentes City. They were banished from their own land, but not victimized. It is constant struggle. It is struggle and it is struggle. For survival, for identity, for urban. It's a struggle for the urban, "he concluded.
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