2018 está chegando ao fim e ficará marcado como o ano em que o Brasil dominou o circuito mundial de surfe. Faltando apenas uma etapa para a definição do circuito e do título mundial, 8 das 10 etapas disputadas foram vencidas por brasileiros, num ano em que o contingente nacional na elite do esporte, pela primeira vez na história, foi maior que o de qualquer outro país (13), incluindo Austrália (8), Estados Unidos (5) e Havaí (4), que sempre dominaram os primeiros lugares do ranking mundial.
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Tiago Brant
Novidades no horizonte olímpico
Já estamos há quase 19 anos neste novo século, mas só agora algumas novidades começam a fazer sentido no mundo pós-moderno. Uma delas é a entrada dos esportes radicais nos Jogos Olímpicos, ou de pelo menos três modalidades que representam perfeitamente o espírito livre, jovem e contestador deste movimento. Estou falando, claro, da entrada do trio surfe, skate e escalada nos Jogos de Tóquio 2020. Em assembleia realizada no dia 3 de outubro de 2016, na cidade do Rio de Janeiro, que acabara de realizar os Jogos Rio 2016, o Comitê Olímpico Internacional (COI) admitiu por unanimidade a entrada de cinco novos esportes no programa dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020: Surfe, Skate, Escalada, Beisebol (Softbol para as mulheres) e Caratê. Tais esportes já haviam obtido o aval do Comitê Executivo da entidade e precisavam apenas da aprovação dos membros da assembleia do Comitê Olímpico Internacional para 2020.
Considerada por Thomas Bach, presidente do COI, como uma proposta histórica, o surfe e o skate, assim como a escalada, se tornarão olímpicos em 2020, promovendo o rejuvenescimento da audiência olímpica e, ao mesmo tempo, provocando uma mudança significativa na percepção do público conservador em relação a esses esportes.
“Queremos levar o esporte para a juventude. Com as muitas opções que os jovens têm, não podemos esperar que venham a nós. Temos que ir até eles. Isso faz parte das recomendações da Agenda Olímpica 2020. Os cinco esportes são uma combinação inovadora de eventos estabelecidos e emergentes, voltados para a juventude e que são populares no Japão, o que adicionará legado aos Jogos de Tóquio”, afirmou o presidente do COI, Thomas Bach (COB, 2016).
Coincidentemente, a inclusão do surfe na Agenda Olímpica acontece um século após o reaparecimento desse esporte para a civilização ocidental, proporcionado justamente por um herói olímpico, o havaiano Duke Kahanamoku.
Aparecimento e popularização do surfe
O surfe foi revelado para a civilização ocidental em 1778, pelo capitão da Marinha Real Britânica James Cook, quando sua tripulação atravessava o norte do Oceano Pacífico no caminho de volta à Europa. Sua primeira impressão, ao avistar nativos surfando nus em tábuas de madeira, foi assim descrita por Cook: “Era impossível não concluir que aquele homem sentia o mais supremo prazer enquanto era guiado tão rápido e tão suavemente pelo mar”. Após este primeiro contato, os colonizadores ingleses mantiveram seu processo usual de exploração e catequização, que dizimou estimados 400 mil nativos havaianos, resultando em menos de 40 mil sobreviventes indígenas. Isso porque os missionários calvinistas ingleses consideraram o surfe imoral e, portanto, além de dizimar a população local, baniram a prática da cultura havaiana por mais de um século.
Apenas no início do século XX, por meio do havaiano nadador e bicampeão olímpico Duke Kahanamoku, é que o mundo voltou a ouvir falar do esporte dos reis havaianos. Medalhista de ouro nos 100 m livre em Estocolmo (1912) e na Bélgica (1920), Duke era um completo watermen, dono de um carisma poucas vezes reproduzido no esporte, transformando-se no embaixador mundial do surfe, ao difundir a prática que, conforme justificava, era a fonte de sua performance atlética. Fez demonstrações nos Estados Unidos (Califórnia, 1912) e também na Austrália (1914), difundindo largamente o surfe nesses lugares e em outras antigas colônias britânicas. Não por acaso, o surfe floresceu primeiro nesses lugares, transformando Estados Unidos, Austrália e África do Sul nas primeiras potências mundiais do surfe competitivo.
A primeira prancha trazida ao Brasil chegou a Santos em 1934, pelas mãos do piloto americano, naturalizado brasileiro, Thomas Rittchers, sendo que a primeira prancha produzida nacionalmente apareceria em 1938, feita pelos cariocas Osmar Gonçalves, João Roberto Suplicy e Júlio Putz, ainda inspirados no modelo trazido por Rittchers. Assim como em outras partes do planeta, a prática do surfe no Brasil se tornou mais visível nas décadas de 60 e 70, em plena ditadura militar. Desde sempre taxado como esporte de vagabundos, o surfe não era bem-vindo nas famílias mais conservadoras, ganhando popularidade apenas em fatias mais rebeldes da sociedade. No entanto, desde o final da ditadura, em 1985, até os dias de hoje, o esporte tem crescido de forma consistente e revelado grandes talentos, como era de se esperar num país com 7.367 km de litoral atlântico.
Tempestade brasileira
O que explica a altíssima popularidade desse esporte, às vésperas dos Jogos de Tóquio 2020, é a tal “Tempestade brasileira” (Brazilian Storm, segundo os gringos), uma geração talentosa, faminta por títulos e, principalmente, oriunda de famílias de surfistas mais velhos, que sempre incentivaram seus filhos a surfar, como é o caso do primeiro brasileiro campeão mundial de surfe em 2014, Gabriel Medina, criado em Maresias, no litoral norte de São Paulo. Depois dele, Adriano de Souza, vindo do Guarujá, foi campeão mundial em 2015, seguido por outros jovens surfistas de grande talento como Filipe Toledo, de Ubatuba, e Ítalo Ferreira, da Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, mostrando que a tempestade não tem previsão de parar. Em 2018, por exemplo, o título será decidido em Pipeline, na costa norte da Ilha de Oahu, no Havaí, pela última etapa do circuito mundial de surfe, de 8 a 20 deste dezembro, com dois brasileiros na disputa, Gabriel Medina, atual líder do ranking, e Filipe Toledo, segundo colocado neste mesmo ranking, empatado com o australiano Julian Wilson, mas isso é assunto para a próxima matéria.
Tiago Brant é jornalista esportivo e mestrando em Ciências da Atividade Física da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP
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Brazilian storm. Tiago Brant is speaking, from the entrance of the surfing trio, skateboarding and climbing at the Tokyo Games 2020.
2018 is coming to an end and will be marked as the year Brazil dominated the world surfing circuit. With just one step left for the definition of the circuit and world title, 8 of the 10 disputed stages were defeated by Brazilians, in a year in which the national contingent in the elite of the sport, for the first time in history, was greater than that of any other country (13), including Australia (8), the United States (5) and Hawaii (4), which have always dominated the top spots in the world ranking.
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Tiago Brant
Tiago Brant
News on the Olympic horizon
We have been around for almost 19 years now in this new century, but only a few novelties are beginning to make sense in the postmodern world. One of them is the entrance of extreme sports in the Olympic Games, or at least three modalities that perfectly represent the free, young and contentious spirit of this movement. I'm talking, of course, about the entrance of the trio surfing, skateboarding and climbing at the Tokyo Games 2020. At a meeting held on October 3, 2016 in the city of Rio de Janeiro, which had just held the Rio 2016 Games, the Olympic Committee International (IOC) has unanimously admitted five new sports to the Tokyo 2020 Olympic Games program: Surfing, Skateboarding, Climbing, Baseball (Softball for Women) and Karate. Such sports had already obtained the endorsement of the entity's Executive Committee and needed only the approval of the members of the assembly of the International Olympic Committee for 2020.
Considered by Thomas Bach, president of the IOC, as a historical proposal, surfing and skateboarding, as well as climbing, will become Olympic in 2020, promoting the rejuvenation of the Olympic audience and, at the same time, causing a significant change in the perception of the conservative public in relation to these sports.
"We want to take the sport to youth. With the many options young people have, we can not expect them to come to us. We have to go to them. This is part of the recommendations of the 2020 Olympic Agenda. The five sports are an innovative combination of established and emerging, youth-friendly events that are popular in Japan, which will add a legacy to the Tokyo Games, "said the IOC president, Thomas Bach (COB, 2016).
Coincidentally, the inclusion of surfing in the Olympic Agenda comes a century after the reappearance of this sport for Western civilization, provided by an Olympic hero, the Hawaiian Duke Kahanamoku.
Surfing and popularization of surfing
The surf was revealed to Western civilization in 1778 by British Royal Navy captain James Cook as his crew crossed the northern Pacific Ocean on the way back to Europe. His first impression, when he saw natives surfing naked on wooden boards, was thus described by Cook: "It was impossible not to conclude that this man felt the supreme pleasure as he was guided so swiftly and so gently by the sea." After this first contact, the English settlers maintained their usual process of exploration and catechization, which decimated an estimated 400,000 Hawaiian natives, resulting in fewer than 40,000 indigenous survivors. This is because English Calvinist missionaries considered immoral surfing and thus, in addition to decimating the local population, banished the practice of Hawaiian culture for more than a century.
Only in the early twentieth century, through the Hawaiian swimmer and double Olympic champion Duke Kahanamoku, did the world once again hear about the sport of Hawaiian kings. Duke was a gold medalist in the 100 m freestyle in Stockholm (1912) and Belgium (1920), who was a full watermen, who had a few times reproduced in the sport, becoming the world's ambassador of surfing, as he justified, was the source of his athletic performance. He made demonstrations in the United States (California, 1912) and also in Australia (1914), spreading the surf widely in these places and other former British colonies. Not surprisingly, surfing flourished first in these places, turning the United States, Australia and South Africa into the first world powers of competitive surfing.
The first plank brought to Brazil arrived in Santos in 1934, at the hands of the American pilot, naturalized Brazilian, Thomas Rittchers, and the first board produced nationally would appear in 1938, made by Cariocas Osmar Gonçalves, João Roberto Suplicy and Júlio Putz, still inspired in the model brought by Rittchers. As in other parts of the world, the practice of surfing in Brazil became more visible in the 1960s and 1970s, in the midst of a military dictatorship. Since always rated as a sport of hobos, surfing was not welcome in more conservative families, gaining popularity only in more rebellious slices of society. However, from the end of the dictatorship in 1985 to the present day, sport has grown consistently and revealed great talents, as one would expect in a country with 7,367 km of Atlantic coastline.
Brazilian storm
What explains the high popularity of this sport, on the eve of the Tokyo Games 2020, is the "Brazilian Storm" (Brazilian Storm, according to the gringos), a talented generation, hungry for titles and, mainly, from families of surfers more who have always encouraged their children to surf, as is the case of the first Brazilian surfing world champion in 2014, Gabriel Medina, created in Maresias, on the north coast of São Paulo. After him, Adriano de Souza, from Guarujá, was world champion in 2015, followed by other talented young surfers such as Filipe Toledo from Ubatuba and Ítalo Ferreira from Bahia Formosa in Rio Grande do Norte, showing that the storm has no plans to stop. In 2018, for example, the title will be decided in Pipeline, on the northern coast of Oahu Island, Hawaii, for the last stage of the world surfing circuit, from 8 to 20 December, with two Brazilians in the dispute, Gabriel Medina, current leader of the ranking, and Filipe Toledo, second placed in this same ranking, tied with the Australian Julian Wilson, but that is subject for the next matter.
Tiago Brant is a sports journalist and a Master's degree in Physical Activity Sciences from the School of Arts, Sciences and Humanities of USP
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